quarta-feira, 8 de dezembro de 2010

Diálogo


QUANDO FOR TEU TEMPO...

Dialogo entre a mente e o coração.



Estava o coração ferido e a mente contrariada conversando.

Mente: Que ultrajante! Melhor que tenha ido, quem te feriste em vão!
E eu jamais te veja novamente combalido, oh querido coração.

Coração: Mas e agora, o que serei sem ele? Como viverei assim?
Mente: Ora! O que queres com tal bruto? Se ainda tens a mim!

Coração: Tal bruto é quem me justifica o bater!

Mente: Para que bater se só apanhaste?
O que justifica o teu dizer?

Coração: Apanho de ti que me prendes, me privas de quem me afaga.
És tu quem me maltrata, meu carrasco, oh mente malvada!

Mente: Ingrato, preferes quem te faz sofrer á quem te proteges.

Coração: E vil és tu que me proteges do teu jeito
de não dar na vista a todos que eu exista nesta cela
a qual me nego a chamar de peito

Mente: Que queres? Que sejamos chacota de todos?
Pra que nos vejam e digam ‘’tolos, que tolos’’?

Coração: Me ofendes, oh mente, me diga por que mentes,
se de fato me odeias, pra que dizer que me defendes?

Mente: És tu que me odeias, que me tira a fome,
quem por dentro me consome,
me confunde as palavras e me nega a paz do sono...

Coração: Deixai-me sair e a paz será teu trono!

Mente: Esqueceste que já fora livre? E que sem mim não mais fizera que perder-se em amargura?
Que voltaste aqui chorando inundado de lamentos, e que sem o meu intento iríamos ambos á loucura?
Me calando com teus gritos, em sofrimento, ensurdecendo o pensamento
e por isto és tu detento, que tenho em tal clausura!

Coração: Dizei isto pois não sentes, por isto não me entendes

Mente: Se confundes pois não pensas, e por isto te perdôo de tais ofensas

Coração: E por isto que me matas? Ou melhor, me tens morto?
Pois nada mais posso ser,
se não me aceitas no viver
Mente: Sim por isso que te mato, não passas de um estorvo!

Mente: Não lamentes que este peito seja teu tumulo. E aceite tua morte
que por hora é o que te resta, é esta tua única sorte,
que vivendo assim já morto não há de sofrer,
e cala-te enfim miserável! Por que insistes em viver?

Coração: Não me calo pois tenho esperança, é isto algo que não podes entender

Mente: De fato não entendo, se sempre que liberto, nos fizeste perder,
como podes crer que algum dia não o há de fazer?

Coração: Tenho esperança pois dela sou feito, se um dia eu a perder
hei de deixar de existir e por certo nem morto hei de ser

Mente: Terias tu coragem de me deixar sozinho?

Coração: Isto não é coragem, é covardia, e não me surpreende que não saibas,
e que também não saibas que sou forte, que me parto e me agüento,
nem que para isto me valha do lamento.
mais uma vez te digo me soltes ou serei o teu tormento!

Mente: Mas eu por ultimo te ordeno,
se afogue em teu próprio veneno!
se cale e se diga contento
e um dia te solto, se for o teu tempo


Escrito por: Mademoiselle Garcet

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